Investimentos garantirão novos avanços ao Porto de Paranaguá em 2010 06/01/2010 - 15:00

As projeções do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) para 2010 são de um crescimento de 10% nas exportações brasileiras. O otimismo com os novos rumos da economia mundial é compartilhado, também, pelo setor produtivo, que prevê safra recorde e retomada do consumo.
O cenário positivo, que se desenha para a economia no próximo ano, exigirá dos portos, ferrovias, aeroportos uma infraestrutura capaz de dar vazão a esse aumento na produção nacional.
Na entrevista a seguir, o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Daniel Lúcio Oliveira de Souza, faz um breve balanço do desempenho dos portos paranaenses, em 2009, e fala sobre as perspectivas de crescimento, que são promissoras para 2010.

- Em 2009, o Porto de Paranaguá teve um bom desempenho, mesmo em um cenário pouco favorável ao comércio exterior. Quais são as perspectivas para 2010?

De fato, este ano, tivemos uma performance muito boa em vários produtos exportados pelo Porto de Paranaguá, mesmo em um cenário adverso. Tivemos, por exemplo, um crescimento muito forte nos embarques de açúcar e a conquista do primeiro lugar no ranking brasileiro de exportações de carnes. Nós superamos outros portos brasileiros que tinham posição privilegiada e, hoje, Paranaguá e Antonina são o número 1 no ranking brasileiro nas operações com carnes congeladas. Na área de soja, grão e farelo, tivemos um crescimento muito importante, motivado também pelas melhorias na infraestrutura marítima, especialmente a dragagem, que possibilitou aos navios saírem com carga plena, reduzindo o frete e tornando a operação Paranaguá, novamente, a mais competitiva do Brasil em termos de custo operacional. Nós operamos um mix de produtos que nos coloca em uma situação muito privilegiada.
O segmento de fertilizantes, que sofreu muito com a crise, teve uma redução muito forte nos volumes movimentados, mesmo assim, vai fechar o ano de 2009 com 5,5 milhões de toneladas, ainda mantendo Paranaguá como principal corredor de entrada do produto. E esse segmento deverá crescer cerca de 50% em 2010, segundo empresários do setor.
Se falarmos agora de perspectivas para 2010, o cenário é extremamente positivo para todas as cargas. Nós temos, na área de grãos, uma previsão do secretário de Agricultura do Paraná, Valter Bianchini, de um crescimento físico da nossa safra de 15,8%. Aliado a esse crescimento, nós temos o fechamento de contratos de exportações por Paranaguá, que antes eram feitos por outros portos. A dragagem, concluída em julho, e o aumento do calado para 12,5 metros, fizeram com que os armadores, os exportadores e as agências de navegação passassem a negociar seus fretes por Paranaguá. Com isso, nós deveremos ter um crescimento da ordem de 25% para 2010 nas operações de grãos pelo nosso porto. Nós teremos a continuidade do crescimento nos embarques de açúcar em 2010 e, no segmento de contêineres, a retomada gradual da economia internacional possibilitará que essas operações, também, sejam superiores as ocorridas em 2009. O mesmo se espera do segmento de veículos: de retomada das exportações do segmento automotivo em 2010. E Paranaguá tem uma boa produtividade nas operações com veículos com custos operacionais menores em relação a outros portos. Então, nós temos um cenário muito positivo. Estaremos, também, operando a pleno o Terminal Público de Álcool, colocando o Porto de Paranaguá em uma situação de liderança no Brasil, junto com os terminais privados, na operação de granéis líquidos, especialmente o etanol. Temos certeza que o pior da crise internacional já passou e os nossos portos estão preparados, agora, para o crescimento que se apresenta.


- Há várias licitações em andamento, que somam mais de R$ 200 milhões. Que investimentos são esses e que avanços representam para o Porto de Paranaguá?

Mais do que aumentar fisicamente a estrutura do porto, é importante melhorar o que já existe. Nós temos um cais acostável de 2.816 metros de extensão que, com as obras previstas, deverá ter um acréscimo de cerca de 350 metros. Portanto, nós ultrapassaremos 3,1 mil metros de extensão. E esse cais, deverá ter os berços aprofundados para 14,5 metros. Mas, antes de aumentar a profundidade, as cortinas de contenção deverão ser aprofundadas para poder suportar uma dragagem de aprofundamento dos berços. É um investimento que estava orçado em R$ 109 milhões. Estamos em fase de conclusão de uma concorrência para essa construção, que deverá custar cerca de R$ 95 milhões de reais. Nós esperamos que essa obra seja contratada e tenha início nas primeiras semanas de 2010.
Isso coloca o Porto de Paranaguá na disputa dos portos concentradores de cargas. Nós nos posicionaremos entre os portos do mundo que têm essa característica de hub port e, com isso, faremos outros investimentos. Além da ampliação da área destinada a contêineres, com a construção de um terceiro berço, teremos uma extensão de 60 metros a oeste do cais e mais um dispositivo chamado “pescante”, que é uma estrutura suspensa de correias transportadoras para carregamento de navios de grande porte, com capacidade para operar dois navios graneleiros, simultaneamente.
Depois de preparar essa infraestrutura para navios de grande porte, temos que pensar em investimentos nos equipamentos de terra, que são os chamados de “shiploaders”, responsáveis pelo carregamento de grãos. A capacidade de operação desses equipamentos, hoje, é de 800 a 1,5 mil toneladas por hora. A intenção é substituí-los por shiploaders com capacidade de até 3 mil toneladas/hora, que é o que exige a nova geração de navios de grande porte. Então, não são só investimentos na água, mas em terra, no cais e também equipamentos para fazer as operações nos navios. São investimentos integrados para melhorar as condições de recebimento dos navios e aumentar a capacidade operacional. Esses projetos já foram licitados, estão em fase final de homologação interna na Appa e, em breve, serão encaminhados para aprovação pelo governador Roberto Requião para que possamos fazer as contratações.

- O que significa ser um ‘hub port’ e o que isso representa para a economia do Paraná e do Brasil?

Os navios são cada vez maiores assim como o volume de cargas que cada embarcação transporta. Por essa razão, os portos têm que estar preparados para receber grandes navios cuja tendência é fazer menos escalas. Um navio de grande porte que sairá da Ásia ou da Europa, por exemplo, escolherá poucos portos na América do Sul para escalar e depois outros navios menores é que farão o abastecimento de outros pequenos portos na costa da América do Sul. Então, o ‘hub port’ é o porto de conexão desses grandes navios. Como se fosse um grande aeroporto de onde saem os vôos regionais. Nós estamos preparando nosso porto com uma infraestrutura para competir nesse segmento de conexão de grandes navios. Teremos um porto capaz de receber pequenas e grandes embarcações.
A importância para a economia é que nos navios de grande porte o custo do frete é mais competitivo, o que reflete em toda cadeia logística e produtiva. Isso gera renda, gera mais atividade econômica, propicia que navios menores venham aqui buscar as cargas deixadas pelos navios grandes e isso também gera mais trabalho no cais para o trabalhador portuário autônomo, muito mais atividade no comércio da nossa região, na área de influência do nosso porto. Enfim, transformar Paranaguá em um ‘hub port’ vai atrair, inclusive, indústrias e empresas de serviços não só na região de Paranaguá e Antonina como também na Região Metropolitana de Curitiba. A tendência das grandes indústrias é de se instalarem próximas aos portos e, em especial, dos portos que recebem essas escalas de navios de grande porte. Todo esse desenho de futuro do nosso porto atrairá, sem dúvida, uma série de outros investimentos regionais e quem sai ganhando é o Estado, a nossa população e a nossa região.

- Quais são os grandes desafios da Administração dos Portos para 2010?

Nós estamos deixando uma semente plantada para que o governador Orlando Pessuti e sua equipe - que assumirão o governo do Estado em abril de 2010 - dêem continuidade. São projetos que estão em fase de finalização ou que já haviam sido iniciados na gestão do governador Roberto Requião. Entre essas iniciativas está a compra da draga que, salvo imprevistos, estaremos recebendo no primeiro trimestre de 2010 e cuja operação efetiva deverá se dar em abril, já no governo Orlando Pessuti. Portanto, há várias obras de infraestrutura, que se iniciam, não só de dragagem de manutenção, mas, também, as de aprofundamento do Canal da Galheta, com verbas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal, que em breve também estaremos anunciando. Tudo isso são trabalhos e obras que serão desenvolvidos no decorrer de 2010, na gestão do governador Pessuti.
Nós temos o desafio e o compromisso de deixar uma herança de obras de infraestrutura para as futuras gerações do Paraná, porque os navios crescem, as novas gerações estão chegando e isso exige muito mais eficiência na operação portuária. Essa eficiência só é possível com uma infraestrutura - seja marítima, seja de terra, seja de equipamentos -, que possibilite essa continuidade. A draga, por exemplo, dará independência e segurança aos nossos portos na questão da dragagem. Não ficaremos mais dependentes de dragas estrangeiras. E esse modelo que está sendo adotado pela Administração dos Portos do Paraná vem tendo o acompanhamento de outros portos que pretendem seguir o mesmo modelo. 2010 será um ano em que haverá crescimento em todos os produtos movimentados pelo porto e, por consequência, exigirá mais infraestrutura e mais trabalho por parte do nosso pessoal. Temos que estar preparados para dar a resposta que a sociedade, a economia e o setor produtivo exigem.
Estamos certos de que o trabalho que se iniciou, em 2003, liderado pelo ex-superintendente Eduardo Requião, no resgate do porto público e com todas as obras de infraestrutura que foram iniciadas nesse período, deixam o Porto de Paranaguá pronto para o futuro.